quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Ensino Médio: esperanças e ...


Sim, o Ensino Médio precisa de uma reformulação e ela vem em boa hora. Não se pode negar que, como traz a revista Vejaneste domingo, “Os educadores concordam que não tem mais propósito fazer o aluno acumular cultura enciclopédica numa era em que o conhecimento está na internet a um clique de distância”. A revista complementa com a voz do físico Andreas Schleicher da OCDE que reúne países desenvolvidos: “O que o jovem precisa é saber juntar as peças disponíveis e formular ideias”. Mas isto é mais do que tornar o sistema atrativo para os estudantes como afirma a revista.

Tudo parece ainda indefinido e caberá aos Estados e Municípios fazer suas escolhas em um processo de flexibilização que é saudável. Há alguns aspectos preocupantes:
1.        Sobre as verbas para a educação. O Secretário de Educação do Estado de São Paulo. José Renato Nalini (é mestre e doutor em Direito Constitucional) afirmou em matéria publicada no jornal O Estado de São Paulo em 24/09, que deve usar espaços de escolas privadas: “Vamos poder usar recurso (espaço) de escolas privadas. O Sistema S (formado por Senai e Sesc, entre outros), então, vamos aproveitar tudo.” Usar recursos é bom, mas para onde iriam as verbas? Para a iniciativa privada? E as escolas públicas continuariam com a precariedade em que se encontram?

2.       Sobre os novos percursos formativos dos estudantes. Trabalhar por áreas é uma solução interessante mas dizem que a gritaria geral contrária é corporativista. Será? Vejamos. Para o referido Secretário, na mesma matéria já citada: “É impossível falar de literatura sem falar em arte. Isso leva você até a despertar a imaginação quando faz uma descrição, enxergando um quadro, por exemplo.” Literatura é uma das linguagens artísticas, mas a literatura como o Teatro, a Dança, a Música e as Artes Visuais fazem mais do que descrever um quadro. Os jovens vivem imersos no mundo de imagens e não podem ser meros consumidores acríticos. A visão interdisciplinar há de ser construída por um coletivo de professores especialistas e não basta dizer que “pode estar integrada até nas ciências exatas ” como quer Maria Helena Guimarães de Castro, secretária executiva do MEC em matéria da Folha de São Paulo de 25/09. A dimensão estética amplia a compreensão do mundo e provoca o pensamento criador e sensível necessário para qualquer área do conhecimento, mas exige um docente com formação específica e tempo curricular para isso.

3.       Sobre a profissão docente. É desalentador o que se vê como perspectiva. O SESI, por exemplo, oferece um Curso de Graduação em Linguagens. Em seu site é possível descobrir que em 4 anos, além de outras funções, “O licenciado em Linguagens estará preparado para atuar como professor de Língua Portuguesa, Língua Inglesa e Artes, nos anos finais do Ensino Fundamental e no Ensino Médio.”  Há cursos para todas as áreas. Fácil assim.. . E já foi autorizado e publicado no Diário Oficial da União do dia 18 de agosto de 2015. Em quatro anos seria possível habilitar um profissional com conhecimentos tão específicos?

A MP não foi um bom início, mas desvela que tudo estava engendrado há muito tempo. Menos é mais? Ainda lidamos mais com conteúdos do que com conceitos, mais com objetivos do que propostas que os permitam acontecer... A MP atacou com vara curta e impulsiona o repensar a educação e a profissão docente. E exige de cada um de nós e de nossos secretários de educação muita atenção, sensibilidade, inteligência e tempo para aprofundar os detalhes importantes que parecem apenas esboçados .


Mirian Celeste Martins

Programa de Pós-graduação em Educação, Arte e História da Cultura - Universidade Presbiteriana Mackenzie - São Paulo/SP
Grupos de Pesquisa: GPAP - Arte na Pedagogia e GPeMC - Mediação Cultural: contaminações e provocações estéticas

Nenhum comentário:

Postar um comentário