carta convite:. (n°77)
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Escultura - Ademar (Pernambuco) |
"estamos à distância de quatro mesas
e enquanto tu constróis sentenças
sem esperar resultados
eu desconstruo versos
e reinvento a invenção do mundo
Chamando-o (filho) "filial do universo"
(o gerente - mini anjo de asas reduzidas
a voz grandiloquente sinaliza
uns amanhãs cheirando a ontens
de inocência maculada pretendendo
que sejam caminhos para a regeneração )
quatro mesas à frente (ou do lado que sei eu ?)
tu insistes em plantar uma nova filosofia de vida
- como todas excludente para nós - os sonhadores - e
nem ousas reparar
em meu trabalho oxidante
eu queimo versos e esvazio continentes
com a mesma tranquilidade com que
desiludo a moça mentirosa
que confessou me amar
(eu também lhe mentiria
ao dizer que o amor dos poetas
era feito de pedra-e-cal)
agora quero refazer caminhos
estruturando um mundo a base dez
me apoio nos dedos da mão
como antigos levantinos e me deito
nos antigos sonhos desfeitos
não faz mal sou engenheiro
e tenho amigos arquitetos
que julgarão meu projeto
de um mundo muito melhor
(pode ser que haja falhas
na hora de calcular as fundações
desse mundo ideal - tanto melhor
porque me assusta
a mania de perfeição ...)
tu quatro mesas à frente
(agora tenho certeza)
nem podes imaginar que chegou a hora de oferecer correções
(minimalistas e mecanocelestiais)
e enumerarás as vezes
em que o ponto sem endereços
cruzará o vazio abobadado
pintado de de azul-verdescuro-e-preto
(porque dele todas as outras cores fugram
para visitarem não cor...)
teus números caro poeta
saltarão de unhas
finamente manicuradas e produzirão
estatísticas deconvolitivas sem cuidado
de previsão - tudo na base dez
estamos - somente - a quatro mesas
de distância calculada com precisão
(nunca por necessidade)
mas é preciso saber
que ainda há

enquanto isso
o anjo-gerenciador espera ansiosamente
para avaliar os resultados
do tanto que nós fizemos
no curvo espaço/tempo
de nosso trabalhar
José Gomes Sobrinho
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